17/03/2013

Tocando Depois do Culto


 Todos já tinham ido embora, ou quase todos. Os poucos que ainda estavam na igreja estavam espalhados em trios ou duplas conversando a ponto de ir pra casa, se preparar para voltar à noite. Mas Ele ainda não tinha ido. Resolvera ficar mais um pouco, tocar...
 Em uma das salas da igreja, também havia um piano. Era usado em pequenas programações ou musicalização com as crianças. Ficava sempre aberto para eventuais ensaios também. Ninguém estava usando a sala ou iria usar. Ele entrou, fechou a sala, se sentou em frente ao piano e o abriu. Olhou para aquelas teclas com um sorriso e se preparou para começar a tocar.
 Ela também não tinha ido, apesar de ja ter se despedido dele, a muito tempo. Tinha encontrado uma moça que a muito tempo fora sua "tia" no tempo em que era do grupo das crianças, ali na igreja, e ficou conversando por um bom tempo com ela. Quando passou pelo bebedouro para beber água antes de ir, ouviu a música que ultrapassava as janelas daquela sala. Era uma música calma, gostosa, que a inspirava a dançar. Como em desenhos, o personagem era levado por um cheiro gostoso de comida quentinha até a mesma, Ela foi levada até aquela sala.
 Sorriu e não exitou em entrar ao ver que era o namorado quem estava tocando, mas entrou devagar para que ele não reparasse. Ela ja tinha o visto tocar, várias vezes, mas sempre acompanhado por outros instrumentos, no máximo, um curto solo no teclado, em alguma música de sua banda. Foi se aproximando do piando quase de olhos fechados, imaginando-se dançando ao som daquela melodia. Ela conhecia aquela música.
 Ele tocava de olhos fechados quando Ela se apoiou no piano, o que a fez entrar definitivamente em estado de êxtase ao juntar aquela melodia, sendo tocada por seu namorado que o fazia com todo seu ser, com prazer. Dava pra perceber que não tocava apenas para si, por ser uma coisa que gostava de fazer. Era mais do que isso, dava pra se notar que era como se estivesse se apresentando para o mais importante dos Reis.
 Ela fechou os olhos para se imaginar dançando em frente a esse Rei também. Ele abriu os olhos. Se surpreendeu com a presença dela, ali, mas não parou de tocar, estava quase terminando. Deixou que seus dedos dançassem sobre as teclas perfeitamente diminuindo o ritmo até o último toque, até o último acorde, e então ela abriu os olhos. Seus olhos se encontraram. Sorriram sem dizer nada.
 Ele estendeu a mão pra ela, ela estendeu de volta, e de mãos juntas ela finalmente disse:
  -Eu sempre quis que tocasse pra mim, pra eu ver como seria a sensação, mas... -Ela desviou o olhar, percorrendo um espaço da sala e voltou-se para ele. -Não teria sido melhor do que agora, do que você tocando pra Ele, sabe?
  Ele sorriu. Ela continuou:
  -Eu ficaria a tarde toda ouvindo. -Ela deu de ombros.
 Ele aproveitou que ainda estava de mãos dadas e a puxou de leve. Ela deu alguns passinhos para chegar perto dele e sentar ao seu lado, e então ele a beijou.
 Se olharam com carinho e depois ele sorriu dizendo abruptamente ao se virar para o piano de novo:
  -Quero tocar mais, é melhor. -Ele deu mais uma risadinha. -O que a senhorita quer ouvir? "Um Deus tão Grande" ?!
  -Depois de "Ele é Exaltado"... Claro! -Mas Ele ja estava tocando, mesmo antes dela responder.

Alice Leite

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