20/05/2011

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"[...]Os leitores de livro, uma família que eu estava entrando sem saber (sempre achamos que estamos sozinhos em cada descoberta e que cada experiência, da morte ao nascimento, é aterrorizantemente unica), ampliam ou concentram uma função comum a todos nós. Ler as Letras de uma página é apenas de seus muitos disfarces. O astrônomo lendo um mapa de estrelas que não existem mais, o arquiteto japonês lendo a terra sobre a qual será erguida uma casa, de modo a protege-la das forças malignas; o zoólogo lendo os rastros de animais na floresta, o jogador lendo os gestos do parceiro antes de jogar a carta vencedora; a dançarina lendo as notações do coreógrafo e o público lendo os movimentos da dançarina no palco; tecelão lendo o desenho intrincado de um tapete sendo tecido , o organista lendo várias linhas musicais simultâneas orquestradas na página, os pais lendo no rosto do bebê sinais de alegria, medo ou admiração; o adivinho chinês lendo as marcas antigas na carapaça de uma tartaruga; o amante lendo cegamente o corpo amado à noite, sob os lençóis; o psiquiatra ajudando os pacientes a ler seus sonhos perturbadores, os pescadores havaianos lendo as correntes do oceano ao mergulharem a mão na água; tempo no céu - todos eles compartilham com os leitores de livro a arte de decifrar e traduzir signos. Algumas Dessas leituras são coloridas pelo conhecimento de que a coisa lida foi criada para aquele propósito por outros seres humanos - a notação musical ou os sinais de trânsito, por exemplo - ou pelos deuses - o casco da tartaruga, o céu à noite. Outras pertencem ao acaso. [...]"

Manuel, Alberto. Uma História da Leitura_2ed. 
São Paulo : Companhia das Letras, 2006. p.19

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