11/07/2011

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Eu sei como você se sente. Sei como é ter amigos e como é perder amigos.
Sei como é se irritar com eles ou se divertir com eles. Sei como é chorar, sofrer, ajudar, pagar mico por eles e com eles... Sei exatamenteo que você sente!

Assim como qualquer um preciso de amigos. Ando procurando aquele que você quer chamar de seu, aquele que eu quero chamar de meu. Eu procurei e achei, e não foi apenas um. Era quase que uma sala inteira.
Minha turma do Ensino Fundamental é aquela que levarei comigo pra sempre, durante toda a minha vida. 
Saímos juntos quando estávamos no 9° ano. Dormíamos na casa uns dos outros e nos ajudávamos nos deveres de casa. Todos na turma se falavam e éramos a mais unida de todas! Eu tinha orgulho de fazer parte daquela turma. Ter amigos de classe, de vida, amigos de todas as horas como eles não tinha preço!
Lembro que planejávamos todas as saídas com ansiedade. Lembro que adorávamos encarnar com algum casalzinho ou amizade colorida que estivesse surgindo. Eu era uma delas.
Pedro e Daniel eram melhores amigos e gostavam de mim. Eu sabia de quem eu gostava, mas mesmo assim tinha uma quedinha pelo outro. Os dois adoravam cantar e tocar e de vez enquanto eu aprendia alguma coisa com eles...
E minhas amigas? Flávia e Ana eram as melhores, conselheiras amorosas e companhias para shopping! 
Lucas e Luh eram os gemios mais fofos que conheci. Um super elétrico e malandro mas ao mesmo tempo carinhoso e outra super inteligente, quieta, mas ousada... Sem falar nas comédias do Victor, André e Matheus: O trio terror desde o 6° ano. Bárbara e Dih eram patricinhas mas sempre animava a sala quando estava pra baixo... 
Todos tínhamos sonhos e apesar de tristes por saber que não compartilhariamos mais a mesma sala na 1° ano do Ensino Médio, estávamos ancisosos com a nossa formatura. Uma festa só pra gente, sem
formalidades...

Juntando dinheiro e sonhando com o grande dia. Ajudando com os preparativos e escolhendo a roupa certa a usar... todos nós estavamos anciosos para bater AQUELA FOTO PERFEITA para guardar de recordação. 

No grande dia aquilo que eu jamáis poderia imaginar... aconteceu! Era na quadra da escola, a festa estava animada. Daniel ia se declarar pra mim com uma música, minhas amigas deixaram vazar o segredo e ja me olhavam com sorrisinhos de canto quando ele subiu no palco com o violão. Eu estava perto do banheiro conversando com Pedro, mas prestando atenção em Daniel, quando vários homens entram armados, atirando, gritando... Todos gritavam! Meu coração apertou, senti um calar frio e de repente me senti presa, não conseguia me mexer.
Eu os via caindo, sangrando, desesperados... Uns correndo, se escondendo. Eu olhei para o palco, Daniel estava caído. Eu não raciocinava. Senti Pedro me puxando para dentro do banheiro, na parte mais escondida do mesmo, nos abaixamos e ouvíamos os gritos lá fora. Ele me abraçava, mas eu o sentia tremer tanto quanto eu.
Eu podia sentir a dor, podia sentir-me sangrar também, eu sentia toda a minha vida indo embora num mar de sangue e desespero, eu imaginava tudo o que estava acontecendo a poucos metros de mim... com meus próprios amigos...
Depois de algum tempo em que toda a confusão cessou e as vozes grossas e raivosas se foram eu sai do banheiro. Preferia ter ficado lá. Eu não aguentava olhar eles caídos, sangrando. Eu passava por eles e a cada rostinho perfeito que passei quatro anos de minha vida que eu via eu parecia mais fraca. Eu ja não aguentava mais ! Segurando minha mão, Pedro subiu ao palco e não encontramos Daniel. 
Eu chorava muito, Pedro chorava, estávamos desesperados! Eu vi que alguns tinha se escondido no outro banheiro e começavam a sair, eram muito poucos. Eles não aguentavam ver a cena em que estavam presenciando...
Eu ouvi uma voz vindo de trás do palco. Corri. Lucas estava bem, apenas sua perna sangrava e nela um corpo morno ainda, mas não permaneceria assim por muito tempo. 
"Daniel! Meu lindo e perfeito de cachinhos. Porque?  Volta! Você não se declarou com a música! Canta pra mim! Daniel..." 
Eu não conseguia falar de tanto soluçar, mas era o que eu estava pensando ao me ajoelhar ao lado de Lucas e tocar em Daniel. Lucas chorava... Pedro tentava segurar mas era impossível, ficou ali abraçado comigo, afinal eram melhores amigos...
 Onde estava Luh? Subi no palco e procurei. Não era uma cena de filme de terror como eu preferia pensar. Era vida real! Minhas amigas juntas como se tivessem dado as mãos. Cheguei mais perto. Fiz carinho em cada uma, deixando-as mais confortáveis como se apenas dormissem como um bebe. Flávia ainda disse alguma coisa. Finalmente sorri, mesmo um sorriso triste. Ela disse devagar:
"Estou feliz por você ser a última a ver! Não se esquece: Amigas pra Sempre e nem a Morte nos Separa!"
Eu não aceitava. Era uma brincadeira! Eu tive que gritar! O meu mundo tinha se acabado naquela noite!
Provavelmente 200 pessoas estavam naquela festa. Muitos se salvaram, conseguiram fugir, se esconderam. Apenas 24 morreram e 19 eram meus amigos; pedacinhos de mim.  35 ficaram feridos e todos os outros ficaram totalmente ilesos, assim como eu que não pude fazer nada para salvar aqueles que tinham toda uma vida pela frente...
Até hoje, um ano depois, eu não consegui falar sobre o assunto. No início eu não conseguir falar sobre nada, não queria falar nada. Eu estava em choque. Apenas olhava as fotos dos anos anteriores, filmes 
gravados e todas as outras lembranças que ficarão guardas em minha memória. 
Decidi contar tudo! Comecei uma vida nova, em uma escola nova, com amigos novos. Pedro é meu namorado agora, fizemos uma música juntos em memória de nossos amigos e principalmente de Daniel. Lucas não tem mais a Luh para implicar em casa então sempre arruma um tempo pra implicar
comigo, principalmente agora que ja largou a cadeira de rodas e voltou a andar. Aos poucos vamos retomando nossa vida, é o que devemos fazer...
O Ensino Médio é uma grande aventura! Novos planos então é o que tenho que fazer. Esquecer as coisas ruins, "o que foi não volta mais"... Mas JAMAIS esquecer aqueles que me ajudaram a formar a minha adolescência, aqueles com que passem minha transformação de garotinha para a adolescente que sou hoje. Porque quando se é amigo de verdade, não importa a distancia, estaremos sempre juntos! 
E que novos amigos venham e me ajudem a formar uma nova parte da minha história. Com novas aventuras, novas brigas, novos sonhos....

Um comentário:

  1. De emocionar, mesmo. É um texto que prende, devo dizer. Fiquei me imaginando lá durante o tiroteio, K. No começo acreditei ser uma história real sua, mas acho q eu saberia se tivesse acontecido [né?]. Parabéns, minha blogueira preferida ;D Super legal o texto!

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